27 de jul. de 2011

Um Quilombo que não existe...

Don Mauro, questo Quilombo esiste da vero? Secondo il mio parere, questa storia del "Quilombo do Papagaio” esiste solo nella tua testa e nessun altro è d'accordo con te…

Conversando com um grande amigo, que encontrei aqui na Itália, tive oportunidade de falar a respeito do Morro do Papagaio e das lutas que os Negros e Pobres brasileiros precisam enfrentar para que as Favelas se transformem em Quilombos... Falei a respeito do Programa Vila Morta da PBH e das estratégias usadas pelo prefeito, para enganar os favelados e expulsá-los para longe do centro da cidade. Contei a respeito das nossas Comunidades e sobre o Chá da Dona Jovem, contei a história das Vilas São Bento e Esperança, da Caminhada pela PAZ, sobre o Quilombo do Papagaio... Então ele me disse: “Padre Mauro, na minha opinião, parece que esse ‘Quilombo do Papagaio’ existe apenas na sua cabeça, e de mais ninguém...”

Depois de ouvir essa opinião comecei a pensar se, por acaso, o meu amigo italiano poderia, ou não, estar com a razão. Quando vejo que a prefeitura ‘comprou’ algumas falsas lideranças para dividir e dominar os moradores; ou, quando eles espalham a “semente da discórdia” no meio das comunidades, começo a pensar que os poderosos estão vencendo essa luta. Quando vejo as fotos dos Conjuntos Habitacionais do Vila Morta, ou vejo o tamanho dos apartamen-tinhos (42 m²), que parecem pombais ou galinheiros, entendo que a Prefeitura está alcançan-do seu objetivo: livrar-se dos Pobres e Negros, mandá-los para bem longe. Começo, então, a acreditar que o ‘Quilombo do Papagaio’ só existe na minha cabeça e de alguns poucos favelados: Beatriz, Renata, Pe. Matozinhos, Marcos Guimarães, Cleunices, Sílvia, Márcia, William, Josemeire, Catharina, Ritinha, Nil, Flávia, Patrícia, Dona Jovem, Dona Marta, Merê, Eudes, Graça e Jorge do Congado... Mas, quando ouço os capangas do prefeito dizendo: ”Não se preocupem, vocês terão o direito de escolher. Vocês podem se mudar para os aparta-mentinhos, ou pegar o dinheiro (esmola) da indenização!”. Pior ainda: quando vejo que algumas pessoas estão caindo nesse golpe, tenho certeza que o nosso ‘Quilombo’ nunca existiu.

Enquanto a Prefeitura articula reuniões às escondidas, com o objetivo de nos enganar e se livrar dos favelados, eu me pergunto: Os moradores do Aglomerado desejam transformar a favela no Quilombo do Papagaio, ou será que eles desejam fazer parte da cidade que os exclui? Será que os favelados querem que o Aglomerado se transforme em uma Vila Morta?

Quando cheguei aqui no Aglomerado, dia 5 de fevereiro de 2000, vi tanto sofrimento e tanta esperança! Acreditei que a favela tinha possibilidade de se transformar em um lugar melhor. Pensei que a força do Evangelho e da Eucaristia seriam suficientes para combater o modelo racista e capitalista que divide o mundo entre Pobres e Ricos, Negros e Brancos, Palacios e Barracos, Analfabetos e Doutores, Catedrais e Capelas Miseraveis, Empregadas e Patroas, Escravos e Livres... Sonhei com o Reino, com um lugar onde TODOS podem “comprar sem dinheiro” e TODOS “comem e ficam saciados”. Anunciei uma sociedade onde cada um deve lavar a sua própria privada, onde ninguém é melhor do que ninguém. Onde o Médico serve a Empregada Doméstica porque ambos são iguais em Direito e Dignidade, porque TODOS somos filhos do mesmo Deus. Desejei que o Morro se transformasse em um Quilombo de PAZ.

Pe. Mauro Luiz da Silva – Quilombo do Papagaio 2011